domingo, 26 de março de 2017

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Fernando Pessoa

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Poema de um amor eterno

Quando eu não existir,
Busque uma praia solitária
Estarei no vento que vem do mar 

Quando eu não mais existir
Ouve nas solidões de tuas noites
Melodia triste e profunda
Estarei na música


Quando eu não mais existir
Procure na casa do crepúsculo
Nas tardes vestidas em véus
Serei a brisa que te beija a boca

Estarei no perfume das flores
Que tuas mãos tocarem
Nas estrelas que teus olhos buscam
Serei o frio do luar que te afaga

Quando eu não mais existir
Irá sentir-me nas noites de felicidade
Serei o sorriso a ternura o teu pranto.

Deixarei nas lagrimas de teus olhos,
Artificiais lembranças da noite
Em que me entreguei a seu coração 
No gostoso fruto proibido 
Estarei nos beijos que te derem

Quando eu já não existir 
Existirá o meu amor ardente nas estrelas
Suspirando na serragem da madrugada

Quando eu não mais existir
Haverá um barco
Onde verás o semelhante sorriso
E a pequena boca dizer
Eu te amo
Quando eu já não existir
Procure-me dentro de si mesmo
Nas tuas lembranças
E então saberás que sempre fui
E sempre serei teu...
Milene Isabele